Relatos de um lobo solitário

De pé na proa de um navio, eu vejo as últimas nuvens chuvosas passarem por sobre a minha cabeça. Essa foi uma noite difícil, mesmo para um marujo como eu, acostumado a navegar por águas turbulentas.
Eu já consigo olhar pra cima e ver a lua; as ondas já se acalmam e o navio apenas balança, suavemente; quase como um bebê embalado pela mãe. Certo, ainda há muita água no convés, mas isso é pouco, tendo em vista que cheguei a achar que o casco ia se partir.
É… Eu achei mesmo que tudo ia acabar, achei que não veria mas a terra, que não veria mais ninguém.
Sabe, Deus existe e nos ouve, Ele age por nós. Deus age através da esperança, aquele fogo que queima dentro de nós quando todo o resto falha, isso é a esperança. A esperança é o que faz o amor resistir a tudo, a esperança é o que faz causas perdidas se erguerem, a esperança faz milagres.
Milagre… Foi isso o que aconteceu comigo. Só pode ser, porque não há outra explicação que seja mais adequada.
As ondas batiam contra meu navio. Eu, com ele, era jogado de um lado a outro sem poder controlar meu destino, pois por mais que eu tentasse guiar o timão, o mar se mostrava mais poderoso e não adiantava lutar contra ele. Eu sentia os braços doerem pela força que era feita, sentia frio por causa da água que batia violentamente no meu corpo. Eu estava sendo açoitado pelo mar…
Não há exatamente um porquê, mas mesmo com todo o medo e dificuldade, com todas as coisas contra mim, mesmo ouvindo o navio ranger a cada onda que batia contra ele, fazendo-o dançar a contento do destino; eu me recusei a desistir. Algo em mim me impedia de me deixar cair.
Eu não podia desistir; na verdade, eu não queria desistir, não antes de esgotar todas as alternativas. Eu ainda tenho muito mar para navegar, ainda tenho muitas lutas a travar, porque cruzar espadas faz parte da vida que eu escolhi. Não sei desistir sem lutar, e naquele momento eu estava lutando com o mar pelo direito de viver.
Eu ainda tenho uma dama pra encontrar, sabia?! Era o que eu estava gritando aos quatro ventos naquela tempestade.
Foi então que vi uma luz: mesmo com a vista escura e os olhos ardidos de sal, eu pude ver.
Era uma luz fraca, que brilhava contra as nuvens e contra a tempestade, que insistia em trovejar cada vez mais alto em meus ouvidos, como se quisesse dizer: “Desista e morra, marujo!”.
Ah, como aquilo estava me enchendo! Eu comecei a me irritar, uma onda de fúria percorreu meu ser. Naquele momento, todo o sentimento de dúvida morreu.
Me agarrei ao timão, já não sentia mais o açoite das ondas, meu corpo parou de tremer, o som dos tambores celestes parou de ecoar (foi o que pareceu pra mim).
Fixei meus olhos naquela luz, driblei as ondas. Eu sentia vida em mim de novo.
Pode parecer que foi fácil me recuperar, que foi fácil sair daquela tempestade depois que vi a luz, mas não o foi. Uma escolha nunca é fácil de ser feita!
Ainda não encontrei a luz que vi, mas ela ainda brilha no horizonte, e eu sigo para ela esperançoso. Esperançoso de que eu encontre lá um porto de segurança em meio ao grande e revolto mar.
Por ora, sigo retirando do barco as lembranças da grande tempestade.


Por José Nilson Souto Jr.
(Texto registrado)
26/06/2011

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