A espada e a bainha

Eu brandia minha espada contra tudo e contra todos, não sabia confiar, não sabia amar. Eu só sabia ser só, só sabia ser eu. O que me importava era o eu e as minhas convicções, meu ego de guerreiro que lutou, que luta e que nunca baixou a guarda por medo de se ferir. Mas tudo muda um dia.
Lembro-me como se fosse ontem, ou melhor, como se fosse agora. Sou capaz de reviver detalhes, detalhes ricos (os que julgo ricos) e importantes. Ricos de sentimento, ricos de sinceridade, ricos de algo que na época eu não sabia o que era: o amor fraterno.
Era um dia estranho e eu estava com frio, mas não me lembro se o clima estava realmente frio.
Ela se achegou a mim de um jeito estranho, e eu não me lembro o porquê. Contudo, quando ouvi os passos dela, quando senti aquele cheiro que se assemelha com o chocolate até hoje, a minha primeira reação a ter meus pensamentos interrompidos foi me afastar. Reclamei mentalmente, mas ela veio assim mesmo. Senti-a aproximar, então virei o rosto, porque não queria que ela visse as minhas cicatrizes, mas ela manteve o olhar fito em mim, eu podia sentir. Pude sentir a caridade dela, mesmo sem me virar para ver aqueles olhos, pude sentir o cheiro doce que se impregnava e invadia minhas narinas. Senti-me estranho.
Eu não pude me conter por muito tempo. Aquilo estava além de tudo o que a minha alma de guerreiro julgava saber: aquele cheiro, que não me excitava como muitos dos cheiros femininos fazem e nem me irritava como faz o cheiro de umas outras moças, que acham que nós machos somos abelhas e decidem exalar mais aroma que as cerejeiras. Aquele cheiro trazia paz, paz que antes eu só sentia em lugares sagrados.
Minha mente foi tomada por uma tempestade de ponderações: questionamentos baseados em lembranças de batalhas antigas; mas não os combates, os motivos pelos quais eu os havia travado, os ferimentos que nunca sumiriam por completo e que ficariam gravados pelo meu corpo. Cada um como a marca de um erro diferente, cada um com uma parte da minha história, parte das minhas escolhas, dos caminhos que trilhei, dos ideais com os quais eu me identifiquei durante a minha jornada como guerreiro. Sei lá por que cargas d'água eu acabei também pensando em amores… Quantos deles teriam sido realmente amor?
Essa moça a quem eu nunca amarei como uma mulher, a mesma moça que tem cheiro de chocolate, foi quem, tempos depois, me trouxe a resposta.
Escrevendo nesta narrativa detalhista e subjetiva, cheia de meus apontamentos, percebo que as palavras tornam a reconstrução daquele momento lenta demais, mas, na verdade, tudo transcorreu tão rápido quanto alguém é capaz de cerrar as pálpebras e tornar a abri-las.
Eu me virei. Me virei e vi que os olhos dela estavam em mim, me analisando, meio que receosos, mas cativantes; belos em seu tom negro, duas joias que completam bem a bela obra, que é aquele rosto redondo e de feições doces… Doces e inocentes; quase infantis!
Eu quis me esconder de novo porque senti medo daquele rosto, mais medo do que qualquer guerreiro poderia me infringir. Senti medo de que ela tivesse visto por baixo da máscara de guerreiro e tivesse visto o ser amedrontado pela dor que eu guardava no fundo do meu eu.
Ela sorriu para mim.
Eu nunca mais seria o mesmo homem.

~

Este não é o fim, é apenas o começo!

Por: José Nilson Souto Jr.
(Todos os textos possuem registro)
16/06/2011

Um texto que veio de uma forma inesperada e que acabou me arrebatando, pois apesar de serem algo diferente do que costumo fazer, estas palavras trouxeram uma coisa boa pra mim: o alívio.
Aos leitores: meus sinceros agradecimentos por nos prestigiarem, por dedicarem um pouco de seu tempo à leitura do que é feito no blog, e minhas pessoais desculpas pelos atrasos e erros nas postagens. Tenho me esforçado para que saia tudo da melhor forma possível!
Apesar de alguma confusão que possa haver no texto, eu espero que curtam!

  Um comentário:

  1. Texto muito bom. Comecei a ler, e me identifiquei muito :). Parabéns msm, belo texto.

    ResponderExcluir

Seguidores