Preces à Primavera — Final

Uma longa história inacabada


Há uma semana atrás, no início da primavera, comecei um projeto específico. A estação estava mudando e eu não queria deixar passar simplesmente. Decidi fazer da primavera minha confidente, um par de ouvidos necessários aos quais entreguei emoções amplas e confusas e sentimentos até que bem direcionados.

Era preciso voltar a escrever depois de tanto tempo. Antes que essa coisa que tem me tomado já faz algum tempo se tornasse real e eu realmente deixasse de criar, de contar, de dizer. Não sei se sou um contador de histórias, mas com certeza sei que tento fazer isso. Eu tento contar histórias o tempo todo. Há algum poder nisso! Ainda que tenha recomeçado pela poesia e o texto (hoje) associado à contação de histórias seja a prosa, acho que justifico minhas tentativas nas imagens que formei.

Primeiro foi preciso voltar ao bosque, o que pode ser uma referência aos Bosques da Ficção, de Umberto Eco, ou só a memória dos Contos do Bosque, uma coluna que já tivemos aqui neste pequeno espaço e que já é passado. No fim, saibam, o Bosque e seus Contos era só um par de jovens poetas — o do beco e o da beca, diz alguém aí — fazendo do fim de uma adolescência real a matéria para uma ficção pueril. E acho que foi terapêutico para o articulista principal, mas isso só ele poderá dizer.

Era 2009 quando fui convidado a integrar esse pequeno castelo de areia… Caralho, 2009! Puta que o pariu, são 12 anos?! 12 fucking anos! Tá… Não foram assim lá 12 anos de trabalho contínuo; foi um negócio que fizemos pegar no tranco como aquele carro velho que a gente insiste em amar mesmo quando a família enche a medida pra gente vender. Todos os outros têm vergonha de andar na lata velha, mas a gente ama e finge que não fica pistola quando ele enguiça.

Quantas brigas internas já não tive comigo sobre isso aqui? Ninguém lê, ninguém quer saber. Só nós nos importamos…. E era verdade, ainda é verdade, eu acho. Só que eu tinha 17 anos quando vim pra cá, nunca tinha tido nada meu (e continuo não tendo, porque isso aqui não é meu, mas deixa quieto…) e agora tinha. Tinha um lugar pra encher com as minhas histórias: as que eu criei, as que eu vivi, as que eu vivi e fingi que criei, as que criei querendo ter vivido.

Tô de volta, de volta ao Bosque, o bosque das palavras, porque mais ou menos 4 anos depois do começo disso aqui, eu decidi que eu ia me tornar um professor, um escritor, um fazedor de livro, garimpeiro de palavras minhas e dos outros. Fui pra faculdade brigar com as palavras e me perder da minha busca por mim mesmo achando que tinha finalmente encontrado o caminho a seguir.

Não podia estar mais errado! Porque quanto mais eu me embrenhava na literatura e lia livros que eu amava, e amava os livros que lia, mas eu fui me desmanchando do que eu queria ser, fui ficando árido, vazio, inseguro, cansado. Eu fiquei doente!

Amo a faculdade e a jornada inacabada, mas se puderem evitar passem longe, beleza? Conselho de amigo, belê…? Pelo menos eu consegui alguma coisa, sem ingratidão. Eu fiz bons amigos, tive boas conversas a café e pão na chapa antes das sete da manhã. Tive excelentes mestres, amizades que eu trouxe pra fora do meio acadêmico. E reafirmei meu amor às palavras. Eu me tornei um fazedor de livros, alguém que teve o privilégio de ajudar a dar concretude ao sonho de algumas pessoas. Até posfácio pra livro eu escrevi, mano!

Só que, não faz muito tempo, alguém me disse que eu era um profissional de letras e não um contador de histórias! Eu me senti um bosta, mas um bosta daqueles dos mais indignos! Pior, aquilo tinha sido dito com a melhor das intenções, mas… Destruiu algo que eu achava que era muito sólido dentro de mim…. E o “Estrelas…”, que já tava largado antes, ficou pra mim como um símbolo de fracasso. Era por isso que não dava certo. Era por isso que ninguém lia! Era por isso que não tinha periodicidade! Era por isso, porque eu nunca tinha sido um contador de histórias.

Não tinha nada a ver com a vida adulta, não tinha nada a ver com a falta de tempo, não tinha a ver com a fucking pandemia. Era só porque eu não era um contador de histórias.

Eu não podia ter sido mais injusto comigo mesmo, nem mais cruel e tolo, mas fui e isso ainda dói, na verdade, mas depois de três dias escrevendo eu me vi aos 17, outra vez desejando escrever por mais três dias, mais três preces. Transformei o que vivi até aqui em húmus pra fertilizar um diálogo com as plantas, entender que histórias são como plantas e que precisam de dedicação e esforço, que algumas vão morrer e definhar apesar de você e que outras vão crescer, apesar de você não querer. Demorou pra entender que há ciclos nessa vida e que já chega de me afastar da minha montanha. Pus os pés aqui de novo e vou ficar aqui mais um tempo!

Não me esquecendo de agradecer a Asafe Lisboa — pelo esforço da amizade —; Yasmin Lima —, pelos cafés filosóficos —; à Agathe — por ser quem é, e por seu intermédio às minhas duas outras irmãs do coração —; ao MJ, paciente amigo-irmão, teólogo e madrugador —, à Josi — por seu carinho, respeito e porque adoro esses olhos —; à Mariana e Renato — meus amigos literários; à Isabel — filha de Sekhmet —; à Giovanna — melhor-pior tutora; aos doidos e doidas do RPG aos domingos; ao Luiz — o verdadeiro dono da bagaça toda, amigo velho! — e à moça que sabe quem é, porque se eu fosse Machado ela seria Carolina.

Amanhã tem mais!

José Nilson Jr.
29/09/2021

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